quinta-feira, 2 de abril de 2009

Deputada Ada relembra 45 anos do golpe militar

O dia 31 de março, data em que o golpe militar completou 45 anos, foi lembrado pela deputada Ada De Luca (PMDB), nesta quarta-feira. A parlamentar disse que levou o assunto a tribuna para “não deixar a história morrer”.
Os julgamentos realizados pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, para analisar os pedidos de indenização de pessoas que foram impedidas de exercer atividades econômicas por motivação política entre aos anos de 1946 e 1988, ganharam destaque. A deputada, filha do ex-deputado Addo Vânio Faraco, pediu mais agilidade e transparência nos julgamentos, “até hoje minha mãe espera uma explicação do governo, um pedido de desculpas e o julgamento justo do processo na comissão de anistia. Luto com o processo de meu pai há anos e gostaria que houvesse mais transparência por parte da comissão”.
Ada destacou que a truculência daqueles anos de ditadura não será apagada pelo passar dos anos e que o seu mandato está pautado nesta luta. “Precisamos jogar luz no período de sombras que foi a ditadura, e não deixar que esta luz se apague no reconhecimento dos injustiçados pela repressão”, disse.

Confira o pronunciamento na íntegra:

Senhor presidente,
Colegas parlamentares,
Público que nos acompanha pela Rádio Alesc e TV AL.

No dia 31 de março - ontem - o golpe militar que desmantelou o país, trucidou pessoas e destruiu famílias, completou 45 anos.
Para muitos foi ontem, para alguns não existiu, mas nós – que vivemos aqueles dias cinzentos - não podemos deixar a história morrer.

O golpe militar almejado pelos grupos que dominavam a economia do país atrasou nosso desenvolvimento econômico e social, endividou o país e gerou incontestáveis escândalos.

Quem tiver mais de 40 anos – com certeza – tem lembranças capítulo da história do nosso país.

É, talvez, muito dos que estão aqui não lembrem, porque ainda eram crianças...

- dos navios que nunca foram construídos, mas foram pagos pela Marinha;

- empresas públicas eram utilizadas para espionar, delatar e liquidar com a vida do indivíduo;

- da nossa Rede Ferroviária brasileira que foi totalmente desmantelada;

- alguns enriquecimentos ilícitos;

- E gozado, que o pobre do chuchu – o legume - era responsabilizado pela inflação descontrolada.

Cômico, mas era verdade!

Aliás, na época, responsabilizavam os maiores absurdos pelos desmandos da ditadura militar.
Mas depois de muita luta dos que acreditavam num país livre, a democracia foi devolvida a este país.

Meu pai, Addo Vânio de Aquino Faraco, foi um destes lutadores. Na madrugada do dia 31 ele, que era deputado nesta casa, foi preso e lá permaneceu por longos meses.
Foi um período muito difícil para toda a família.

Até hoje minha mãe espera uma explicação do governo, um pedido de desculpas e o julgamento justo do processo na Comissão de Anistia.
Algumas famílias brasileiras e catarinenses também esperam. E tenho certeza de que todas – assim com a minha família – gostariam de saber mais sobre o próprio processo e sobre os critérios utilizados pela comissão nos julgamentos.
O Estado brasileiro reconheceu sua responsabilidade frente a questão dos que foram mortos e desaparecidos pela repressão.

Mas falta muito ainda!

No meio de muitas histórias de dor, de separação, de dúvida, de silêncio, também existem aqueles que se auto- exilaram e agora querem ser vítimas, os que ficaram só algumas horas detidos, os que deram rápidos depoimentos e, mesmo assim, já tiveram seus processos julgados e foram beneficiados pela comissão.

Tenho acompanhado de perto e pela imprensa a distribuição dos benefícios a uns poucos privilegiados, com pensões e indenizações, algumas milionárias.

Porque agora dá status dizer que passaram por este período negro da nossa história.
Eles não sabem o que foi a ditadura!

Eu mesma, no auge dos meus quinze anos, tive que visitar meu pai na prisão – isso quando era possível – pois dos oito meses em que esteve preso, durante quatro meses ele ficou incomunicável.
Uma experiência que não desejo pra ninguém.

Recentemente, a Comissão de Anistia esteve em Santa Catarina para um ato nesta Casa e também para julgar alguns processos.

Gostaria também de saber qual a participação efetiva nesta história de muitos que entraram com seus processos – e – para minha surpresa - já foram ressarcidos.
Qual a história de cada um?

Não quero questionar o direito dos outros. Mas gostaria de saber quais foram os critérios para a seleção dos processos que seriam julgados? Quais os critérios para reconhecer o sofrimento de uns – e de outros não?

Gostaria – realmente - que estes julgamentos tivessem mais transparência quanto – repito - aos seus critérios, como se espera de um Estado democrático.
A dor, a mágoa, enfim, tudo o que passamos naqueles anos de truculência – é... - não tem borracha que apague, nem dinheiro que pague.
Eis aí meu inconformismo e de muitos outros.


Meu pai, Addo Vânio de Aquino Faraco, que morreu jovem, morreu com este desgosto – o desgosto de não ter sua luta reconhecida pelo país.

E esse é o meu medo – que as injustiças perdurem.

Contra isto vou lutar até os últimos dias da minha vida, como sempre lutei, para fazer prevalecer a transparência e a justiça.

O meu mandato faz parte desta luta. Se hoje estou aqui - e a razão de eu ter coragem para entrar na disputa de uma cadeira legislativa foi pela frase proferida por meu pai dentro da UTI: “Vai minha filha, te candidata, resgata o que a ditadura me usurpou. Eu vou melhorar para te ajudar”.

Ele não teve tempo. Assim como a ditadura, a medicina errou e também não conseguiu reparar o erro.
De onde ele estiver, estou certa que me ilumina nesta luta.

Precisamos jogar luz no período de sombras que foi a ditadura e não deixar que esta luz se apague para o reconhecimento dos injustiçados.

Para um país que reivindica um novo status no cenário internacional, o Estado brasileiro tem que reconhecer suas responsabilidades frente a questão dos presos, torturados, desaparecidos e mortos pela repressão.

Abrir as informações sobre as violações ocorridas no período ditatorial é uma necessidade eminente.
É - falta muito mesmo!
Falta abrir os arquivos das Forças Armadas!
Falta encontrar os ossos dos desaparecidos!
Falta saber as circunstâncias de suas mortes.
Falta julgar muitos processos de pessoas que foram presas – literalmente - injustamente.
Falta julgar os responsáveis!
Os que perderam seus empregos e tiveram suas vidas mutiladas por um único crime – o crime - de pensar diferente.

A consolidação do Estado Democrático de direito só será possível se a nação tiver coragem de limpar estas feridas.
Muito obrigada.


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